Thursday, May 10, 2007


A engenharia genética nos animais

Perspectiva Biológica

A evolução da engenharia genética surpreende - nos cada vez mais com os seus avanços, criando novidades e superando obstáculos nunca antes ultrapassados. No entanto, devido a certos inconvenientes, principalmente no âmbito da ética, ainda é um tema bastante discutido.

Desde há muito que os laboratórios manipulam células de animais modificando as suas características genéticas, com o objectivo de criar novos seres que possam trazer vantagens para o Homem.
Actualmente, a manipulação genética de animais é realizada a grande escala o que pode levantar vários problemas a nível da integridade biológica : questiona-se o direito dos seres humanos actuais em alterarem uma herança biológica que herdaram e que inevitavelmente irão modificar ou destruir. Ao nível da redução da biodiversidade: questiona-se a redução que estas técnicas de melhoria e selecção estão a provocar na natureza, tendo nós um conhecimento muito limitado dos mecanismos biológicos. Para além destes problemas, podem aparecer consequências imprevisíveis: questiona-se a introdução destes novos organismos geneticamente modificados (OGM) em ambientes abertos, uma vez que se desconhece as suas consequências a longo prazo para os outros seres vivos, nomeadamente os da mesma espécie; novas formas de domínio: questiona-se as novas formas de poder que estão a ser criadas por parte dos laboratórios que produzem estes novos OGM. Estes ao possuírem as suas patentes, controlam ( e lucram) com a sua utilização, reprodução e possíveis melhorias. Outro aspecto também bastante importante, é o sofrimento que estas experiências podem causar nos animais para além do limite do razoável, tendo apenas um único objectivo: a sua sobre exploração.

A engenharia genética contribui bastante para o melhoramento e qualidade de produção de espécies na pecuária, no entanto, estas inovações tecnológicas têm consequências nefastas, quer nos animais quer nos humanos, visto que estes consomem alguns desses mesmos animais. Assim, com a alteração dos genes de um animal geneticamente normal, ficamos com outro de diferente constituição. Este, por sua vez, pode causar impactos na saúde humana, como por exemplo pela ingestão de proteínas inseridas nestes organismos, com o intuito de maximizar a rentabilidade, provando efeitos nocivos no organismo humano. Assim, através da engenharia genética, as espécies animais ficam com as suas características geneticamente modificadas, provocando graves consequências para a espécie tal como a sua extinção, uma vez que, se o código genético desta fica alterado, “nasce” uma nova espécie.

A manipulação genética dos animais é um tema que desperta várias opiniões e visões, sendo assim, bastante debatido, provocando principalmente uma profunda inquietação no campo ético e ecológico. Apesar da engenharia genética possuir inúmeros prós e inovações tecnológicas repletas de benefícios à vida humana, esta também acarreta várias consequências à mesma. Sendo uma delas a infracção de diversos direitos dos animais. Assim, ao manipular o genoma de certas espécies, como algumas que se encontram em extinção, os cientistas podem levar a um maior extermínio dessas espécies em extinção, uma vez que o código genético dessa espécie sofre alterações, transformando-se num outro ser. Deste modo, estamos a colocar algumas espécies em risco de extinção, sendo assim, algo inadmissível.

A recomendação dos departamentos de Bioética é às vezes contraditória com relação aos direitos dos animais estabelecidos internacionalmente:
É recomendável que os cientistas que usam animais em pesquisas sigam os princípios que determinam:
• que os seres humanos são mais importantes que os animais, mas os animais também tem importância, diferenciada de acordo com a espécie considerada;
• que nem tudo o que é tecnicamente possível de ser realizado deve ser permitido;
• que nem todo o conhecimento gerado em pesquisas com animais é plenamente transponível ao ser humano;
• que o conflito entre o bem dos seres humanos e o bem dos animais deve ser evitado sempre que possível.
Fonte: Núcleo Interinstitucional de Bioética da UFRGS
Em 1978 a Unesco publicou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais que dizia, entre outros artigos:
ARTIGO 1º
Todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à existência.
ARTIGO 2º
a - Cada animal tem direito ao respeito;
b - O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais, ou explorá-los, violando esse direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros animais;
ARTIGO 8º
a - A experimentação animal, que implica em sofrimento físico, é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra;
b - As técnicas substitutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas.
ARTIGO 14º
Os direitos dos animais devem ser defendidos por leis, como os direitos do homem.


Perspectiva Filosófica

O ser humano, como um ser desejoso de descobrir e conhecer, tenta desvendar todos os mistérios que lhe causam curiosidade. No entanto, para alguns humanos, esses mistérios nunca deveriam ser revelados, especialmente, se prejudicam outrém. Certos cientistas, exploram os enigmas da Natureza a fim de poderem conhecer um pouco mais daquilo que lhes rodeia, e principalmente por possuírem um espírito curioso. No entanto, o resultado desta curiosidade nem sempre é benéfico para todos.
Quando um geneticista descobre que dado gene codifica uma determinada característica pode ser tanto vantajoso como malévolo, visto que depende a quem afecta. Assim, somente pode ser benéfico caso seja favorável para esse determinado ser. Deste modo, em relação aos animais, e à defesa destes, o mesmo se sucede. Para que uma descoberta seja benéfica tem que ser vantajosa para o animal em causa, pois caso contrário é moralmente desvantajosa, visto que não se encontra em prol do animal. Portanto, a manipulação genética, como uma das inúmeras descobertas cientificas, somente é moralmente aceitável caso esteja direccionada para o benefício do animal.

No entanto, é através da introdução de genes em animais responsáveis por doenças humanas, que observamos como os animais são tratados como instrumentos para atingir um fim. Apesar desta prática servir em nosso proveito, os direitos dos animais existem e devem ser respeitados. Deste modo, estamos a aproveitarmo-nos dos animais e actuando em nosso prol. No entanto, apesar de os seres humanos serem importantes os animais são igualmente essenciais, sendo que os seus direitos não devem ser infringidos. Deste modo, os animais devem ser respeitados como tal e não utilizados como “ferramentas” da curiosidade humana.


Andi, o primeiro macaco transgénico

A alteração das potencialidades genéticas dos organismos através da transferência de genes entre animais diferentes, tem muitas vezes como objectivo não só a satisfação da curiosidade humana sobre a natureza da vida, como também o controle e eliminação de doenças humanas e de outros animais.
Mesmo desconhecendo os riscos que esta técnica pode trazer, não restam dúvidas de que passamos a dispor de tecnologia altamente promissora para a solução de problemas de natureza variada. Porém, é preciso olhar também para o lado moral e não apenas para o científico. O facto do Homem “quebrar” com o ciclo natural de crescimento e desenvolvimento dos animais, pode levantar questões relativamente aos direitos dos mesmos, o que não deixa de ser compreensível visto que, cada vez mais, o Homem vai ultrapassando certos limites sem olhar para as consequências que daí podem advir.

Em suma, todas as técnicas de manipulação genética visam melhorar a qualidade de vida do Homem que, muitas vezes, não olha a meios para atingir fins prejudicando, muitas vezes, o que está em seu redor.

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